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50 ANOS

DO SISMO DE 28 DE FEVEREIRO DE 1969​

Sentiu o sismo? Conhece relatos do sismo? Conte-nos como foi. A sua resposta é importante.

X pessoas já responderam!

Sentiu o Sismo?

Na madrugada de 28 de fevereiro de 1969, por volta das 3:40, Portugal foi fortemente abalado por um sismo com epicentro a 180 km a SW de Sagres. Foi um sismo de magnitude Ms7.9, o sismo de maior magnitude sentido na Europa desde o grande sismo de Lisboa de 1755.

Hoje, compreendemos melhor a fronteira a sul de Portugal, que separa a placa Euroasiática da placa Africana. Trata-se de uma fronteira constituída por uma rede de falhas ativas com grande potencial para gerar sismos e tsunamis. Percebemos cientificamente melhor a propagação das ondas sísmicas, a atenuação da energia a partir das falhas, a forma como os solos amplificam ou atenuam a energia das ondas sísmicas, e como os edifícios se comportam sob o efeito das ondas sísmicas.

Mas muito há ainda por compreender, em particular no que diz respeito ao nosso território. E para avançar o conhecimento, é necessário validar hipóteses e modelos com dados.

50 anos após o sismo de 28/fev/1969, as tecnologias de comunicação permitem uma recolha de relatos muito mais alargada do que aquela que foi possível na ocasião do sismo. Pedimos por isso agora, a quem sentiu o sismo, ou conhece relatos, que os partilhe connosco através do questionário online.

Os dados serão utilizados em trabalhos de investigação que nos ajudarão a caracterizar melhor a perigosidade sísmica de Portugal e a prepararmo-nos melhor para sismos futuros.

Obrigado!

Legenda: Distribuição geográfica dos inquéritos respondidos

Desafio à comunidade Escolar

Lançamos à comunidade escolar o desafio de participar ativamente no preenchimento do inquérito sobre o sismo de 1969, de forma a que juntos consigamos chegar a um maior número de pessoas.

As escolas podem participar da seguinte forma:

  • Os alunos devem encontrar um adulto próximo (avô, tio-avô, vizinho, etc) que tenha sentido e se lembre tão bem quanto possível do sismo. As respostas são importantes quer o sismo tenha sido sentido de forma forte ou fraca.
  • Em conjunto com o adulto que sentiu o sismo, o aluno deve preencher o questionário online.
  • No final do questionário, o aluno deve identificar a escola que frequenta.
  • Deve ser preenchido um inquérito por cada relato disponível. Um aluno pode preencher mais do que um inquérito, um por cada relato/testemunha.

Porque é importante o envolvimento da comunidade escolar?

Ao interagir com um adulto mais velho que tenha vivido o sismo, o aluno escuta um relato de vivência de um sismo forte na primeira pessoa, o que o estimulará a aprender mais sobre sismologia e a preparar-se para caso de sismo. Fica também a perceber melhor como os inquéritos sísmicos contribuem para a determinação dos mapas de intensidade. Além de contribuir para uma recolha de informação científica importante, este desafio estimula um importante diálogo inter-geracional.

Quem pode participar?

Escolas portuguesas do ensino básico e secundário. E há prémios!
Serão sorteados os seguintes prémios entre as escolas que submeterem mais de 100 respostas ao questionário:

  • Prémio A: Entrada para 2 turmas no Centro de Ciência Viva de Estremoz (http://www.ccvestremoz.uevora.pt/home).
  • Prémio B: Entrada para 2 turmas no Centro de Ciência Viva do Lousal (https://www.lousal.cienciaviva.pt).
  • Prémio C: Entrada para 2 turmas no Pavilhão do Conhecimento (https://www.pavconhecimento.pt).
  • Prémio D: Uma palestra, a realizar na escola sorteada, sobre o sismo de 1969 e os resultados do inquérito.
  • Prémio E: Entrada para a rede de sismologia nas escolas (http://idl.campus.ciencias.ulisboa.pt/sismologia-na-escola/), com a oferta de um sismómetro Raspberry Shake a instalar na escola e que ficará ligada à rede sísmica nacional.

O questionário está aberto até 22 de abril…

Os questionários devem obrigatoriamente ser preenchidos até ao início do terceiro período, a 22/abril/2019. Os resultados serão divulgados no prazo de uma semana após o fecho do concurso, ou seja, até 29/abril/2019. Este desafio conta com o apoio do Centro de Ciência Viva do Lousal, Centro de Ciência Viva de Estremoz, Pavilhão do Conhecimento e EDP.
Dúvidas ou questões devem ser enviados para sismo1969@ipma.pt.

Participem!

O que fazer em caso de sismo

Sobre o sismo

Segundo o comunicado do Serviço Meteorológico Nacional (que antecedeu o Instituto Português do Mar e da Atmosfera) emitido a 28 de fevereiro de 1969 “foi registado um sismo nas estações sismográficas de Coimbra e Lisboa, com início às 3h41m 41,5s [e] 3h41m 20,2s, respetivamente, e com o epicentro a cerca de 230 km a SW de Lisboa. A magnitude do sismo atribuída é de 7,3 na escala de Richter, tendo sido sentido com intensidade VI-VII da escala Mercalli modificada (MM56) em Lisboa e noutras localidades do continente.” O epicentro foi posteriormente determinado como (36.01º N, 10.57º W) e foi-lhe atribuída a magnitude Ms=7.9 e a magnitude Mw=8.0, após integração dos dados provenientes da rede sísmica internacional.

Em Lisboa foi sentida fortemente uma réplica com início às 5h 28m com intensidade III da escala MM56.

O sismo atingiu o sul do país e a região de Lisboa, sendo o último grande sismo a ser sentido em Portugal Continental, e o mais importante do século XX.

O sismo provocou alarme e pânico entre a população, cortes nas telecomunicações e no fornecimento de energia elétrica. Registaram-se 13 vítimas mortais em Portugal Continental, 2 como consequência direta do sismo, e 11 indiretas. Em Marrocos foram igualmente reportadas algumas vítimas. A maior intensidade (VIII) foi observada no Algarve, sendo atribuída a Lisboa uma intensidade VI. O sismo foi sentido até 1 300 km de distância do epicentro, particularmente em Bordéus e nas ilhas Canárias. O sismo teve várias réplicas, tendo a estação sísmica da World Wide Standard Seismographic Network (WWSSN) da Serra do Pilar, no Porto, registado 47 réplicas entre 28 de fevereiro e 24 de março.

Os Seus Efeitos

No Algarve, os estragos nas construções foram apreciáveis, em particular nas localidades de Vila do Bispo, Bensafrim, Portimão e Castro Marim. Nestes locais o sismo foi violento, ocorrendo a fendilhação de paredes, chaminés e tetos, quebra de vidros, deslocamento de telhas, etc… Foram várias as zonas atingidas, nomeadamente as povoações de Bensafrim e Barão de S. João. Em Bensafrim caíram mais de 20 casas. Em Vila do Bispo e em todas as povoações deste concelho os prejuízos foram avultados, com muitas casas derrubadas e outras gravemente danificadas.

Em Lagos, muitos edifícios ficaram danificados e as rachas apresentadas obrigaram a escorar alguns, nomeadamente na Rua Afonso de Almeida e na Rua Direita. O edifício da Câmara Municipal ficou danificado com o piso superior fendido e em risco de derrocada. Calcula-se que cerca de 400 casas foram derrubadas ou arruinadas. Algumas pessoas mais amedrontadas utilizaram os seus meios de transporte para, rapidamente, se colocarem a salvo na zona de Santo Amaro. Na cidade houve a lamentar a perda de uma vida devido a desabamento de uma das paredes da habitação degradada onde vivia. Seguiram-se várias réplicas, uma das quais foi suficientemente forte para sobressaltar a população.

Em Lisboa caíram inúmeras chaminés de edifícios e paredes pouco consolidadas, algumas destruindo veículos estacionados. Parte da cidade ficou sem energia e comunicações telefónicas. Foram reportados 58 feridos ligeiros. Um acelerómetro instalado na Ponte 25 de Abril obteve um registo sísmico completo da vibração da ponte.

As intensidades associadas ao sismo de 1969 foram compiladas e publicadas para Portugal e Espanha por López-Arroyo e Udías (1972), Mendes (1974), Martínez-Solares et al. (1979), Mezcua (1982), Paula e Oliveira (1996), Martínez-Solares e López-Arroyo (2004) e Teves-Costa et al (2019). A região mais afetada foi o sudoeste Algarvio, sendo a vibração sísmica atenuada para nordeste, com variações locais significativas.

O mecanismo focal do sismo foi estudado por muitos autores (López-Arroyo e Udías, 1972, McKenzie, 1972, Fukao, 1973, Buforn et al., 1988 e Grimison & Chen, 1988). Todos eles concluíram que o sismo foi gerado por uma falha inversa, com um azimute de 40-70º, um mergulho de cerca de 50º e uma pequena componente de desligamento esquerdo. Alguns autores (Grimison & Chen, 1988) sugeriram a possibilidade de se considerarem dois sub-eventos, sendo o segundo um desligamento puro.

A profundidade do hipocentro foi estimada como 22 km (Lopez-Arroyo e Udias, 1972), 32 km (Grimison e Chen, 1988) e 33 km (Fukao, 1973). Foram determinados valores para o momento sísmico entre 6.3 × 1019 Nm (Lopez-Arroyo e Udias, 1972), 6.0 × 1020 Nm (Fukao, 1973) e 8.0 × 1020 Nm (Grimison e Chen 1988). O comprimento estimado da falha foi de 85 km (López-Arroyo e Udías 1972) ou 80 km (Fukao 1973), com larguras associadas entre 20 km e 50 km. Grandin et al. (2007), a partir da modelação das intensidades macrosísmicas,  sugeriram que o sismo teve um mecanismo focal com azimute de 233°, inclinação de 49.5° e rake de 63.5°, tendo a a falha um comprimento de 82.5 km, largura de 35 km e slip médio de 4 m, o que equivale a um momento sísmico de M0 = 6 × 1020 Nm.

As características da falha são consistentes com a compressão oblíqua entre as placas Africana e Euroasiática, que afecta a região sudoeste ibérica, e ocorre a uma taxa de cerca de 4 mm/ano.

Um navio em trânsito no Atlântico, na posição 36°31´ Norte, 12°33´ Oeste, sofreu uma vibração repentina quase simultânea com a ocorrência do sismo. O capitão do Esso Newcastle reportou: “A most unusual and frightening incident happened this morning. I was shaken out of bed by a severe shuddering, vibrating and rumbling noise, with a feeling as if the ship was lifting out of the water. My first reaction was that we had lost the propeller or broken a blade … (or) that we had struck some underwater object.”

João Rocha, terceiro piloto da embarcação Manuel Alfredo, igualmente localizada na região do epicentro, descreve um acontecimento semelhante ao Diário de Lisboa publicado no dia seguinte: “parecia que estávamos a andar por cima de rochas, que o navio subia escadas. Não recebendo ordens de cima parei as máquinas por julgar que encalháramos … Não sabia onde mas dava a sensação de que o barco trepidava em cima de lajes.”

O navio Ida Knudsen, com 32000 toneladas, construído em 1958 relatou um violento choque vertical às 2h 45m UTC, quando estava na posição 36.12ºN 10.70ºW. Sofreu danos estruturais significativos e teve que ser docado em Lisboa (Ambraseys, 1985).

O sismo de 1969 gerou um pequeno tsunami, que foi observado em diversos marégrafos localizados ao longo das costas portuguesas, espanholas e marroquinas. Esse tsunami foi estudado por diversos autores Heinrich et al. (1994), Guesmia et al. (1996), Miranda et al. (1996) and Gjevick et al. (1997), verificando-se que a utilização dos parâmetros sísmicos propostos permite reproduzir as observações com suficientemente precisão. A modelação hidrodinâmica sugere pequenas variações de parâmetros da fonte, que espelham a provável complexidade do sismo e da propagação do tsunami.

O mesmo João Rocha referido acima, terceiro piloto da embarcação Manuel Alfredo, continua: “ondas descomunais envolveram o barco, submergindo a proa. Era uma água castanha e espessa. E logo depois do tremor o mar ficou picado, com uma ondulação miudinha na crista das ondas, que também não é habitual … Entretanto e durante horas, vagas anormalmente grandes balançaram o Manuel Alfredo. Eram ondas diferentes das usuais, mesmo as alterosas.”

A Rede Sísmica Nacional

A sismologia instrumental iniciou-se em Portugal no início do século XX e durante sete décadas sofreu uma considerável evolução impulsionada pela ocorrência de alguns sismos: no dia 23 de Abril de 1909, aquando do sismo de Benavente, a rede sísmica portuguesa apenas estava equipada com um “pêndulo horizontal de Milne” colocado no Observatório da Universidade de Coimbra; em 1910 o Instituto Geofísico da Universidade de Lisboa (atual IDL) instala três sismoscópios Agamemnon nas Penhas Douradas, Évora e Lagos e um sismómetro vertical Mainka em Lisboa. Em 1913 e 1914 são adquiridos três sismógrafos Wiechert de três componentes que seriam instalados apenas em 1919. Coimbra recebe equipamentos similares entre 1915 e 1926.

Os primeiros resultados de análise de sismos são publicados pelo (actual) IDL em 1920, tendo a gestão da rede passado para o SMN (atual IPMA) a partir de 1946, que instalou novos equipamentos sismológicos nos três institutos geofísicos: em Coimbra foi instalado um sismógrafo electrónico de curto período, e no Porto um sismógrafo Sprengnether idêntico ao instalado em Lisboa. Em 1963 verifica-se novo progresso, com a instalação no Porto de uma estação WWSSN no Porto.

Após o sismo de 1969 a rede melhorou significativamente.

O SMN instalou uma estação sísmica de curto período em Faro e em 1975 outra em Manteigas. Com a formação do INMG (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica) foram instaladas cinco estações sismográficas (Montachique, Moncorvo, Portalegre, Montemor-o-Novo e Monte Figo-Faro), algumas das quais já com capacidade telemétrica analógica. Apesar da melhoria na sua composição, a rede sismográfica do Continente, que esteve em funcionamento até meados da década de 1990, não mostrou grande eficácia em termos de deteção.

Numa tentativa de ultrapassar este problema na zona Sul do país, onde se observa maior sismicidade, em Dezembro de 1995 foi instalada na região algarvia uma rede regional que se tornou operacional em Janeiro de 1996. Esta rede foi instalada no âmbito de um projeto internacional (Walker et al., 1997), financiado pela CE, e permitiu melhorar drasticamente a capacidade de deteção e estudo dos eventos sísmicos, em particular no Algarve e na região Atlântica adjacente (Carrilho et al., 2004). Esta rede esteve em operação até Dezembro de 2000.

A Rede Digital

Em 1994, o então Instituto de Meteorologia iniciou um projeto de aquisição e instalação de uma rede digital a instalar no território continental e no arquipélago da Madeira (mais tarde seria iniciado um segundo projeto visando uma instalação similar no arquipélago dos Açores) que ficaria concluído em 1998.

O desenvolvimento seguinte ocorreu já no período 2006-2009, com o processo de modernização da rede sísmica nacional, e que compreendeu a instalação de 22 estações sísmicas de banda larga, com registo acelerométrico incluído.

Com este novo dispositivo passou a ser possível registar todo o tipo de eventos sísmicos, desde o nível do microsismo, ao dos movimentos fortes associados aos sismos próximos de maior magnitude, e aos dos sismos de magnitude superior a 5 ocorridos em qualquer parte do globo. Estes novos equipamentos permitem a transferência da informação sísmica em tempo quase real (4-10 segundos de latência) para o centro operacional, onde está instalado um sistema de processamento que permite o acompanhamento da atividade sísmica em tempo quase real e a disseminação de informação em tempo útil para atuação dos serviços de proteção civil (ex: avisos rápidos com informação básica da fonte sísmica; estimativas de impacto macrossísmico). Para além da componente operacional, esta nova rede veio contribuir para a obtenção de dados de elevada qualidade, essenciais para estudos vários, incluindo a caracterização da perigosidade sísmica.

Este esforço de melhoria encontra-se atualmente numa nova fase, com apoio do POSEUR (PORTUGAL 2020), estando em curso o melhoramento da rede sísmica do Centro e Sul de Portugal Continental, com a instalação com a modernização das estações sísmicas de banda larga e a instalação de novas estações acelerométricas, sendo este desenvolvimento orientado para o alerta precoce de sismos e tsunamis.

Paralelamente várias outras entidades que não o ex-IM (atual IPMA) instalaram equipamentos sísmicos para vários fins. O IST instalou, em diversas etapas, uma rede acelerométrica de âmbito nacional, e uma rede digital telemétrica de banda larga no Vale Inferior do Tejo. As Universidades de Lisboa, Évora e Coimbra instalaram e operam algumas estações de banda larga. Num esforço de coordenação recente entre várias entidades, foi possível integrar no IPMA a informação em tempo quase real das várias estações sísmicas a operar em Portugal.

Centro Regional de alerta Tsunamis

Na componente dos tsunamis, O IPMA assegura, em cooperação com os países da região do Atlântico Nordeste e Mediterrâneo e sob a coordenação da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI), a operação do sistema de alerta de tsunamis, tendo inaugurado em novembro de 2017 o Centro Nacional de Alerta de Tsunamis, simultaneamente Centro Regional de Alerta para os países do Nordeste Atlântico.

Este Centro de Alerta está orientado para a deteção e monitorização de tsunamis com origem sísmica, e tem por base uma sequência de operações que vão desde a obtenção e análise de dados após ocorrência de um terramoto até à emissão de mensagens para os destinatários.

Existem três componentes principais no sistema implementado: Deteção sísmica – assegurada pela rede sísmica de banda larga -, deteção e análise do tsunami – assegurada com recurso à rede maregráfica (em Portugal operada pelo Instituto Hidrográfico, Direção Geral do território e pelo IPMA) – e o envio de mensagens.

As mensagens de alerta são enviadas para os pontos focais designados por cada estado membro da COI, sendo particularmente orientadas para o sistema de proteção civil de cada país.

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Apoios e Parceiros

Organização

Comissão para o Inquérito macrosísmico dos 50 Anos do Sismo de 1969

Instituto Português do Mar e da Atmosfera
Fernando Carrilho ; Paulo Alves ; Célia Marreiros

Instituto Superior Técnico
Carlos Sousa Oliveira

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Susana Custódio